24 de abril de 2024
LUCIANA KOTAKA
Há alguns dias eu estava pensando em uma fala que ouvi no consultório, o paciente relatou que não conseguia perdoar uma situação que aconteceu em sua vida, e essa situação consumia a sua alegria. Trabalhamos a questão e após alguns dias a pessoa me contou que estava sentindo-se leve, parecia que havia se libertado de pesos que há anos vinha carregando. Esse relato me impactou muito, meu coração fica quentinho quando vejo esses processos de ressignificação ocorrendo no trabalho terapêutico.
Ainda hoje nos confundimos e achamos que ao perdoar iremos libertar o outro, quando na verdade somos nós que nos libertamos desse sentimento que maltrata a alma. Muitas vezes não temos consciência do quanto adoecemos por remoer situações e dores do passado afetando a nossa saúde física, mental e emocional. Muitas vezes me perguntam como isso funciona e eu busco explicar da forma mais simples possível que cada vez que remoemos o assunto mais alimentamos a dor e o ressentimento. Temos a tendência em projetar a culpa no outro porque é mais fácil usar o mecanismo da projeção do que olhar para si mesmo e curar possíveis distorções.
Olhamos para fora o tempo todo, o mundo é injusto, a guerra está acontecendo e eu não tenho culpa alguma. Mas se eu te disser que parte do que está acontecendo fora tem sim relação com o que alimenta em sua vida? Isso porque a guerra acontece a partir de pequenas guerras internas que travamos conosco e com o mundo. É mais fácil alimentar as fofocas, as acusações, tomar partido e se tornar polarizado, do que silenciar, manter-se neutro e compreender a parte que nos cabe para o mundo se tornar melhor.
A cura do mundo se dá através da cura de cada um de nós, se nos tornarmos seres mais equilibrados certamente não haverá necessidade de buscar o poder, disputar por posições, status ou reconhecimento. A verdadeira liberdade se dá em saber cuidar de si mesmo. Quando não nos misturamos com a raiva e nem com as histórias do outro, conseguirmos enxergar os fatos de forma mais imparcial e assertiva.
Por isso escrevo sobre o perdão, para que possamos compreender que quando estamos bem com o ser que somos nos responsabilizamos por mudar os nossos comportamentos disfuncionais, o que certamente nos fará crescer como seres humanos. E é nesse movimento que entendemos que não temos nada a perdoar no outro, ele apenas nos serve de espelho nos mostrando a necessidade de ajustes. Esse é um tema bem complexo que abre espaço para muito debate. Eu poderia aprofundar mais e ainda assim encontraria diversas opiniões diferentes. Porém, quando estamos em trabalho terapêutico ou qualquer outro trabalho de autoconhecimento mais profundo vamos sentindo melhor como essa dinâmica se dá. Por ora, se conseguirmos colocar em prática o autoperdão compreendendo que tudo se dá dentro de si mesmo, já teremos diversos ganhos. Nossas ações impactam o todo, que na verdade somos nós mesmos.
LUCIANA KOTAKA – Comportamento, saúde e obesidade