Dia a dia

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5 de dezembro de 2023

DÉCIO MARTINS CANÇADO

“Os homens estão realizando uma revolução silenciosa nos lares, mas enfrentam o mesmo dilema feminino do passado, de conciliar carreira e família. Cuidar bem dos filhos e sobreviver no mercado de trabalho, tudo ao mesmo tempo, era uma preocupação frequente das mães que queriam conquistar uma carreira nas décadas de 70 e 80. Sem dúvidas, constata-se que as mulheres parecem ter superado o dilema, mas agora são os pais que sofrem desse mal.

Pesquisas recentes mostram que os papais estão mais estressados que as mamães quando o assunto é adequar a vida pessoal com a profissional. Compreensível, se pensarmos que os novos pais querem participar da vida dos seus filhos, ouvir, aconselhar, trocar fraldas e levá-los à escola.

Mas vá dizer isso aos chefes deles, no trabalho: os funcionários ganham charutos quando o bebê nasce, mas não são tão aceitos quanto às mulheres que precisam chegar mais tarde, porque o filhinho estava amamentando ou com febre. O resultado não poderia ser outro: Homens mais estressados que as mulheres diante da dificuldade em dividir seu tempo entre os deveres da casa e as tarefas do escritório.

O Estudo Nacional sobre Mudança da Força de Trabalho, feito nos Estados Unidos, mostra bem essa inversão: 59% dos homens, contra 45% das mulheres enfrentam dificuldades para conciliar o campo profissional e o pessoal. Até há pouco tempo, a proporção era de 42% das mulheres para 36% dos homens.

Em um estudo concluído recentemente, sobre o novo papel do pai, os entrevistados afirmam que se tornar pai foi algo ‘bem visto’ no local de trabalho. Eles são tratados como mais maduros e prontos para lidar com responsabilidades maiores, dedicando-se mais tempo à empresa.

Parece algo positivo, principalmente quando comparado à mulher que se torna mãe, pois a tendência é se pensar que ela terá menos tempo para o seu trabalho. Na prática, significa que a cultura das empresas ainda encara a paternidade como algo que não exige tanto quanto a maternidade. Ou seja, a imagem do “macho” provedor financeiro ainda predomina. Na prática, entretanto, verifica-se que não é só isso o que eles querem ser.

Um dos entrevistados na pesquisa disse que: “A empatia para com uma mulher com filho na mesma idade que um homem, é maior. Há mais compreensão, mais admiração, dizem que ela está fazendo muito. Eu acho que se presume que, quando vou para casa, não faço muita coisa. Há uma tendência de achar que minha mulher tem a maior parte ou todo o cuidado com a criança”.

Ao mesmo tempo, por medo de serem considerados menos comprometidos, muitos pais relutam em mostrar seus desejos aos chefes, mesmo em empresas com a reputação de compreensivas com a paternidade. É o que mostra outro entrevistado que diz: “Quando meu filho tinha apenas um mês, recebi a tarefa de visitar dez escritórios diferentes em diversas cidades do país”.

Eu falei: “Não tenho condições de assumir esse compromisso, pois minha mulher ainda está se acostumando com a vida de mãe e eu com a de pai. Foi uma das decisões que tive que tomar. Por sorte, consegui dizer não, mas me dei conta que virão outros momentos em que vou ter de escolher entre um e outro”.

Esse depoimento, também, ilustra outra tendência: os novos pais reduziram suas expectativas na carreira e a vontade de trabalhar muitas horas, baseados em suas novas responsabilidades. Em média, eles disseram passar mais de três horas por dia útil com seus filhos. O número é o dobro do que acontecia há algumas décadas.

Mas não é só em relação aos filhos que essa mudança vem acontecendo. Também nos hábitos diários e de lazer. É cada vez mais comum, e até invejado, o fato de encontrarmos homens bons cozinheiros e que ajudam na arrumação da casa, que levam os filhos ao parquinho, entre outras tarefas, numa verdadeira parceria doméstica, quando toda a família se beneficia e se harmoniza.

Sim. Esses homens estão realizando uma revolução silenciosa nos lares modernos. Estão mudando o conceito de que ser um bom pai é cumprir apenas o papel de provedor financeiro. Essa visão, além de limitada, impede que os homens sejam vistos como pessoas completas, com comprometimento pessoal e profissional de igual importância”. (Baseado em texto de Brad Harrington)