Dia a dia

Dia a Dia

30 de setembro de 2023

CARLOS J. F. LOPES

Bonsais da sociedade moderna?

“Seriam os seres humanos bonsais da sociedade moderna? Uma reflexão sobre a poda de nossos sonhos, metas e desejos.”
O bonsai tem origem na China, onde era conhecido como “penjing”, por volta de 200 a.C. Foi posteriormente adotado e aprimorado pelos japoneses.

A finalidade do bonsai é cultivar árvores em vasos pequenos, podando e modelando suas raízes e galhos para criar uma representação da natureza em miniatura. É considerado uma forma de arte, expressando equilíbrio, harmonia e serenidade. Os bonsais são apreciados por sua beleza estética e como objetos de contemplação e meditação.

Estamos nós, criando pequenas versões de nós mesmos, para a nossa própria apreciação e termos como status em nossas postagens? Estamos criando seres sem vivencias próprias, sem gostos definidos, sem atitudes, imediatistas, superprotegidos, sem autonomia e habilidades de enfrentamento?

Será que como pais, amigos, esposos, estamos causando impactos negativos no desenvolvimento emocional nos nossos entes e principalmente em nossas crianças?
Quando ao invés de incentivá-los a se desenvolver, nós os desanimamos para não os perder.

Assim como um bonsai, muitas vezes tentamos manter nossos familiares e amigos próximos a nós, pequenos e confortáveis dentro de uma bolha, mas isso pode ser prejudicial para o seu crescimento e desenvolvimento. Assim como uma planta precisa de espaço, luz e nutrientes para crescer forte e saudável, nossos familiares e amigos precisam de liberdade para explorar o mundo, perseguir seus sonhos e alcançar seu potencial máximo.

Se os mantivermos confinados em um pequeno vaso, cortando suas raízes e galhos sempre que eles tentam se estender além dos limites impostos por nós, privaremos da oportunidade de se desenvolverem plenamente. Eles podem se sentir enclausurados, desmotivados e com a autoestima baixa.

Assim como as pulgas em um pote fechado que desaprendem a saltar, nossos familiares e amigos podem perder a capacidade de explorar e experimentar coisas novas se não lhes dermos a oportunidade de fazê-lo. Eles podem ficar presos em sua zona de conforto, sem nunca saberem o que existe além dela.

A superproteção também pode ser prejudicial. Embora tenhamos boas intenções ao querer proteger nossos entes queridos dos perigos do mundo exterior, isso pode impedi-los de desenvolver habilidades importantes, como a resiliência e a capacidade de lidar com os desafios da vida.

Portanto, é importante lembrar que nossos familiares e amigos não são bonsais. Eles são seres humanos com sonhos, desejos e necessidades únicas. Devemos encorajá-los a crescer, a se estender e a explorar o mundo, mesmo que isso signifique deixá-los ir além de nossos limites. Dessa forma, eles podem se tornar a melhor versão de si mesmos e florescer em sua plenitude.

O tema aborda a importância de não limitarmos a vida das pessoas que nos cercam, assim como não devemos limitar o crescimento de uma planta só por nosso bel-prazer. Muitas vezes, por medo ou insegurança, podemos acabar cortando os galhos e raízes daqueles que amamos, impedindo que eles descubram seu verdadeiro potencial e vivam plenamente.

A privação, baixa autoestima e superproteção são alguns dos problemas que podem surgir quando tentamos manter as pessoas que amamos sempre próximos e seguros. É importante lembrar que todos nós temos o direito de buscar nossa felicidade e realização pessoal, e isso muitas vezes requer sair da zona de conforto e enfrentar desafios.

Portanto, devemos incentivá-los a perseguir seus sonhos, apoiá-los em suas escolhas e deixá-los explorar o mundo ao seu redor. Isso não significa que devemos abandoná-los ou deixá-los sem orientação, mas sim que devemos dar-lhes espaço para crescer e aprender com suas próprias experiências.

Ao fazer isso, ajudaremos a se tornarem pessoas mais confiantes, independentes e realizadas, capazes de enfrentar qualquer desafio que a vida possa trazer. E como resultado, teremos relacionamentos mais saudáveis e gratificantes com aqueles que amamos.

CARLOS J. F. LOPES, Psicólogo, escritor, integra a Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos membros se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados