17 de agosto de 2023
Um estudo inédito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) criou estufas que reproduzem a atmosfera do futuro, e os resultados não foram bons. Daqui a 77 anos, em 2100, 90% das sementes produzidas pelas plantas estudadas serão ocas, e o pólen não terá a mesma qualidade. Com tamanhos e cores diferentes do atual, as plantas podem deixar de atrair os insetos polinizadores e, então, o impacto será direto na produção de alimentos, produtos naturais e até biocombustíveis.
É um alerta. “No futuro, teremos menos e mais caros alimentos. A população pobre, infelizmente, será a que mais vai sofrer”, diz Geraldo Fernandes, coordenador do estudo e professor titular de Ecologia da UFMG. Os resultados do trabalho apontam que sobreviver sob temperaturas até 3ºC mais altas e com o dobro de CO2 – o recorde de 800 p.p.m (parte por milhão) – será um verdadeiro desafio.
Os pesquisadores já avaliaram os resultados no plantio de milho e soja, mas a “consequência desastrosa” que foi publicada em uma das mais prestigiadas revistas de botânica do mundo, Environmental and Experimental Botany, foi a dos girassóis, matéria-prima para a produção de óleos alimentícios e biodiesel no país. “Escolhemos o girassol porque é uma cultura importante economicamente para o Brasil, principalmente para Minas Gerais. Além disso, essa planta tem características similares a mais de 80% das plantas comuns, o que amplia a noção do resultado”, explica o professor Fernandes.
Quando expostos à atmosfera do futuro, os girassóis ficaram mais amarelados e com as folhas mais duras e grossas. O tamanho das pétalas diminuiu consideravelmente, e o “miolo” cresceu. Mas o problema não fica só na aparência. Os girassóis passaram a produzir 90% das sementes ocas, e o pólen perdeu qualidade nutricional. “A planta continua produzindo fotossíntese, mas com um custo muito alto. Menos fruto, menos semente, mortes celulares”, afirma o coordenador Geraldo Fernandes.
“Acontece uma influência direta na atração dos polinizadores. Assim como a planta depende da polinização, os insetos também, e eles podem perder o interesse na planta. Isso impacta na produção de frutos e sementes, na alimentação dos bichos e na nossa alimentação”, alerta. A mudança no pólen também gera consequências na biodiversidade. “O pólen muda completamente a qualidade nutricional, e, logo, os insetos que são atraídos também mudam. Isso causa desaparecimento dos polinizadores ao redor do mundo, outro efeito muito ruim”, continua Fernandes.
De acordo com o coordenador, dois caminhos são possíveis: ou em 2100 o cenário será ainda pior em emissão de CO2 e temperatura, ou melhor – se forem feitas mudanças. “A primeira coisa é pensar em mudanças climáticas, em ações que reduzam as emergências do clima e da diversidade. Vale começar com a redução do desmatamento, aumentar o plantio de árvores”, avalia.
Fernandes afirma que o preparo para enfrentar um futuro difícil deve começar agora. “Países desenvolvidos já estão se preparando para entender os impactos do clima e como mitigá-los ou tolerá-los. O que nós estamos fazendo? A ciência pode ajudar a pensar em adaptações e novas soluções para o problema”.