14 de julho de 2023
LUCIANA KOTAKA
A compulsão alimentar é um dos transtornos alimentares que mais causam prejuízos à saúde emocional e física de uma pessoa, visto que além do ganho de peso gera fortes sentimentos de impotência, angústia, vergonha, tristeza e culpa. Todo dia é um recomeço, acordam querendo ter um dia mais leve, sem excesso de comida, mas em algum momento se perdem e a compulsão ganha espaço para mais um dia de exagero.
A constante perda de controle mina a autoestima, a pessoa não consegue manter a sua determinação sentindo-se fracassada e sem força o suficiente para encerrar as crises. Tudo isso vai ocorrendo concomitantemente com o acúmulo de gordurinha em locais indesejados, as roupas vão ficando apertadas, a imagem no espelho começa a revelar um corpo indesejado, afetando ainda mais a sua autoestima.
No desespero em conter o peso que a balança denuncia recorrem a dietas restritivas que são ainda mais agravantes nesses casos, pois acabam servindo como combustível para novas crises. Atualmente vemos a crescente utilização de medicações que levam a perda de peso à custa de muitos efeitos colaterais, e seguindo o mesmo modelo das dietas com o provável reganho de peso na sequência.
A grande questão é que a compulsão alimentar é gerada por gatilhos de ordem emocional, e raramente as pessoas estão abertas para olharem os seus conteúdos internos na tentativa de resolverem essa questão. Quando em terapia trabalhamos a vida do paciente, começamos a entender que o comportamento dele na vida é compulsivo.
São pessoas intensas, exigem muito de suas relações, perdem o controle com compras, trabalham demais, são perfeccionistas e cometem vários tipos de excessos. Em resumo, vivem em uma busca desenfreada de gratificação, de afeto, algo que alimente a sua alma. Existe uma dor no seu sistema interno, um buraco que não foi preenchido, ou melhor, devidamente olhado, cuidado.
Frases que machucaram, experiências de invalidação de suas necessidades e expressões, falta de proteção, de carinho e acolhimento. Esses são somente pequenos exemplos das dores da alma que persistem em gritar dentro de uma pessoa com compulsão alimentar.
É claro que o cenário varia de acordo com a história de vida de cada pessoa, o importante é puxar o fio do emaranhado de experiências que podem ter precipitado todo o processo compulsivo. Em terapia vamos sim explorar momentos do passado e das relações que foram estabelecidas desde a infância, mas vamos principalmente trabalhar no agora em busca por estratégias que visam a mudança de comportamento.
Quando temos um local seguro para falar sobre as nossas dores o processo se torna curativo por si só, e somado às técnicas da psicologia os resultados se tornam mais efetivos. Quanto às dores do passado, após ressignificadas e acolhidas o paciente se torna livre para lidar de forma assertiva com as suas carências e demandas, mas agora de um outro lugar, com autorresponsabilidade e amor.
LUCIANA KOTAKA, jornalista, escreve sobre comportamento, saúde e obesidade