1 de abril de 2023
Horizontal still life of 56 year old stack of Australian posted hand written love letters from married couple tied with white and gold ribbon sitting on red Persian rug
SEBASTIÃO WENCESLAU BORGES
Na era da tecnologia da informação, foi – se embora as cartas manuscritas enviadas pelo correio, e a emoção de ler as palavras no papel. Tornou-se raridade nos dias de hoje recorrer ao hábito antigo de escrever cartas para se comunicar.
Nas escritas de amor, muitas chegavam ao destinatário colorida, com marcas do beijo em batom, o borrado de uma lágrima, cheiro de perfume, uma pétala de flor, papel de bala e bombom, desenho de coração, confidências, pedido de desculpas… Para mim que vivi a era da carta escrita do próprio punho, isso jamais será comparado a um e-mail ou mensagem de whatsapp!
Com os novos costumes já não tem mais a emoção, a ansiedade e pulsar do coração ao receber uma carta pelo correio, pegar o envelope, olhar o remetente, endereço, abrir e com os olhos devorar cada palavra. “Escrever cartas de amor podem até ser cafonas, contudo, para as pessoas que se amam são a coisa mais bela do mundo.” Dizia Fernando Pessoa.
Revirando meu pequeno museu de antiga papelada, lá encontrei uma carta muito bem escrita a mão, dirigida a mim ainda em minha juventude, escrita em cor verde (cor da esperança) selada pelo correio. A remetente era minha namorada, que anos depois se tornou minha noiva e há cinqüenta e dois anos estamos casados! Trocar carta é criar memória, construir novas amizades, cada carta recebida é o capitulo da vida de alguém que tirou um tempo para escrever parte de sua história.
Selo colocado no canto superior do envelope, e lá vai ela escrita a mão, viajar levando dentro um papel cheio de palavras com diferentes formas, falando de amor, mudança, trabalho, levando notícias de família, marcando encontro e outros inúmeros assuntos.
Mesmo que demorasse a chegar ao destino, essas cartas escritas á caneta ou a lápis eram responsáveis por manter as pessoas informadas sobre algum acontecimento, era um meio carinhoso de comunicar com pessoas mais chegadas. E como era bom e emocionante receber uma correspondência, ainda que ficasse dias e dias esperando por uma resposta. As cartas já inspiraram compositores, cantores, poetas…
“Obrigado pela flor que mandaste, dei-lhe dois beijos como se fosse a ti mesma, pois que apesar de seca e sem perfume, trouxe-me ela um pouco de tua alma… Estamos ambos neste caso; amamos-nos; e eu vivo e morro por ti.” (Machado de Assis a Carolina de Novais em 1869.) “Não imaginas as saudades de ti que sinto amorzinho, faz o possível por gostares de mim a valer, por sentires os meus sofrimentos, por desejares o meu bem estar; faz, ao menos, por fingires o bem.
Muitos beijos, do teu, mas muito abandonado e desolado.” (Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz em 1920.) “Escrevo -te estas mal traçadas linhas meu amor, porque veio a saudade visitar meu coração”. (Renato Russo) “Cada dia que passa me aproxima de Si” (Eça de Queirós)
E os selos postados nas cartas, mesmo que carimbados, eram disputados para o início de uma coleção pelos filatelistas e eu, mesmo que seja pequena, ainda tenho a minha. Lá pelo fim dos anos setenta, quando eu estudava no “Anexo do Estadual” hoje “Colégio da Penha”, ganhei do “Professor Veloso” filatelista profissional, quando fui seu aluno, um dos mais belos selos, o do milésimo gol de Pelé na cobrança de um pênalti no Maracanã contra o goleiro Andrada do Vasco em 19 de novembro de 1969!
Mas voltando ao assunto das cartas, por mais que e-mail, redes sociais e essa era moderna do celular sejam mais práticos, nada dessa tecnologia substitui a emoção de quando a gente recebia uma correspondência. É pena que esse hábito de se escrever carta e postar no correio tornou-se uma raridade, e com o tempo, os modernos meios de comunicação estão nos eliminando a ansiedade, o pulsar do coração de ficar esperando vários dias o carteiro depositar uma esperada carta na caixa de correspondência.
Enfim, a carta escrita a mão, à moda antiga, ainda carrega um prazer único!
SEBASTIÃO WENCESLAU BORGES é membro fundador da Associação dos Escritores e Cia de Passos e Região. Autor dos livros: Memoriando (6ª edição), Proseando (2ª edição), Férias na Roça, e participação em várias Antologias.