23 de março de 2023
LUCIANA KOTAKA
Muito tem se discutido a respeito dos relacionamentos e ainda assim percebo o quanto é desafiador duas pessoas conseguirem estabelecer um vínculo de cumplicidade e respeito. Fomos concebidos por meio da ação de dois indivíduos e quando nascemos iremos entrar em contato com outras pessoas, e assim seguiremos durante toda a vida.
Mesmo sem querer somos chamados o tempo todo a interagir, vivemos em um planeta onde somos expostos a provas constantes que vou chamar de escola dos relacionamentos. A princípio parece ser um desafio muito simples já que essa ação será constante e comum a todos, mas ao contrário do que imaginamos, será o início dos grandes desafios da nossa existência.
Apesar de toda a experiência que iremos acumular no decorrer dos anos ainda assim enfrentaremos diversos desafios, um deles, e talvez o maior de todos, é a expectativa. Mesmo sem perceber nós esperamos alguns comportamentos de outras pessoas que nunca acontecerão e isso acaba desencadeando muitas discussões e rompimentos.
Isto acontece porque imaginamos que o outro precisa entender, fazer ou querer as mesmas coisas que fazem sentido para nós, o que é impossível. Cada pessoa traz dentro de si os seus próprios desejos, valores e referenciais de vida, sendo um grande desafio fazer com que ocorra um encaixe com o que faz sentido na vida de outra pessoa.
Nós seres humanos temos a tendência a querer controlar o desejo das pessoas das quais convivemos, e desde pequenos aprendemos isso com os nossos pais que na tentativa de nos educar acabam controlando as nossas escolhas. Conforme vamos crescendo vamos tentando exercer o mesmo comportamento com o amigo, com o namorado, mas nem sempre as outras pessoas com as quais convivemos terão os mesmos sonhos e desejos.
A não aceitação desses limites pode causar um grande mal-estar e é nesse momento que os relacionamentos ficam estremecidos e os rompimentos ocorrem, sendo importante prestar a atenção no quanto estamos projetando no outro os nossos sonhos e desejos. Um exemplo é o casamento, um quer ter filhos e o parceiro não, a esposa espera que o marido elogie o seu cabelo, mas o marido é desligado para detalhes.
A maioria das vezes, entramos no relacionamento esperando algo que nunca teremos, e essa expectativa de que tudo será diferente após o casamento é do imaginário, não é real. Seria muito produtivo se desde pequenos tivéssemos na escola uma disciplina ou mesmo ações bem direcionadas para aprendermos a nos relacionar com mais assertividade.
Imagine a possibilidade de se trabalhar as diferenças, os limites, as expectativas irreais e os sonhos de forma consistente durante toda a fase escolar, o quanto poderia impactar de forma positiva os relacionamentos. Mas como vivemos em um mundo real e sem um trabalho efetivo nesse aspecto, devemos estar atentos aos nossos comportamentos, então te convido a ampliar o olhar sobre esse aspecto tão sensível das nossas relações.
Quanto mais olharmos com verdade para o que é nosso, para as nossas expectativas e entender que não podemos esperar que outra pessoa responda ao que nós desejamos, mais fácil será se relacionar. Esse simples exercício demandará um grande esforço, pois quando investimos em autoconhecimento saímos da ignorância, ampliaremos a nossa percepção sobre as nossas ações e ao inconsciente, construindo condições para uma vida produtiva e feliz.
<a>
LUCIANA KOTAKA escreve sobre comportamento, saúde e obesidade