Dia a dia

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16 de março de 2023

Em Passos, a redução foi de 85,3% / Foto: Reprodução

PATRÍCIA LOPES PEREIRA SANTOS

Eita…Etarismo

Não sei se é por falta de assunto, de noção, de educação, ou por tudo junto e misturado, mas existem alguns comentários e seus disfarces que se feitos às mulheres, nos dizeres de Paulo Mendes Campos, são como “falar de corda em casa de enforcado”.
Felizmente, as minhas células adiposas são democráticas; se espalham de igual modo pelo corpo, por isso nunca me perguntaram se eu estava grávida sem estar.

Porém de uma outra pergunta indelicada nunca fui poupada, e com frequência respondo que o meu filho não é o meu neto.
Já contei em outra crônica que, na minha perspectiva, alguns eventos demoraram a acontecer na minha vida. Gestar foi um desses. Só consegui este feito nos acréscimos da prorrogação, então, com certeza, eu poderia ser avó, talvez até bisa do meu filho.

Lembro-me bem quando estava no primeiro terço da vida e achava uma bobagem esse tabu das mulheres em relação à idade. Agora que estou no lusco-fusco da existência, experimentando pequenas discriminações etárias, sei muito bem que chegar à maturidade não é algo tão simples para nós.

Acredito que este assunto indigesto não se resuma às perdas estéticas e de capacidade que ocorrem pela chegada dos novembros. Mas não vou mentir e dizer que “não tô nem aí” para os cabelos grossos e sem melanina da cabeça, para os vincos acentuados abaixo das asas do nariz nem para a necessidade de colocar os óculos no banho para distinguir o shampoo do condicionador.

Não sou tão plena quanto gostaria. Negar situações e sentimentos não faz com que eles não existam. Porém tem algo no assunto idade que me incomoda mais do que a cobrança pela juventude eterna:são as discriminações etárias.
Nesta semana vi duas notícias estranhas na internet. A primeira contava sobre uma coreana que esfaqueou três pessoas no metrô por ter sido chamada de “senhora”, e a outra trazia um vídeo de três meninas universitárias zombando de uma colega por estar cursando a Faculdade na maturidade.

Como se o limite temporal para estudar fosse a juventude. Fiquei indignada e reflexiva com as duas notícias, pensando em quais seriam os valores da coreana, e o que levava as universitárias a criticar sua colega de sala. E assim, vou digerindo o passar dos anos, com ou sem reflexão. Se por um lado, o tempo leva o colágeno da pele, os músculos e a visão, por outro nos acrescenta convicções mais profundas sobre quem somos.

E caso a nossa identidade se norteie pela construção social do que é ser mulher, e se porventura a gente se amolde às exigências deste formato, que estejamos alertas para não nos transformarmos num misto de Donatella Versace com Michael Jackson.
Eu não quero ser esta mistura, só quero ser euzinha. Andando no fio da navalha, falando de corda em casa de enforcado, apresentando-me de mãos vazias diante do desconhecido, curiosa por novos caminhos e por velhos também, acredito que estes “procedimentos” associados à uma ocasional injeção na testa me manterão a mais adolescente das mulheres.

PATRÍCIA LOPES PEREIRA SANTOS, graduada em odontologia (PUCMG) e direito (Fadipa), mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional (Unifacef- Franca) e Especialista em Direito Público (Faculdade Newton de Paiva), é servidora pública do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. E-mail: acitripa70@ gmail.com