7 de agosto de 2025
Setenta anos depois, Carmen Miranda permanece viva na memória cultural do Brasil / Foto: reprodução/ Web
SÃO PAULO – Há 70 anos, em 5 de agosto de 1955, o mundo perdeu Carmen Miranda, a “Pequena Notável”. Nascida em Marco de Canaveses, em Portugal, em 1909, chegou ao Brasil ainda bebê e aqui construiu sua história.
Hoje, as criações artísticas de Carmen Miranda passam a integrar o domínio público, marcando os 70 anos de sua morte. Isso significa que suas músicas, imagens e filmes poderão ser utilizados sem restrições ou necessidade de autorização, permitindo novas produções e reinterpretações de seu trabalho.
Carmen começou a carreira nos anos 1920, descoberta pelo compositor Josué de Barros. Em 1930, lançou Pra Você Gostar de Mim (Taí), de Joubert de Carvalho, vendendo 35 mil cópias em um mês. Tornou-se a primeira artista com contrato exclusivo em rádio, igualando-se aos homens em cachê.
Com seu carisma, voz marcante e figurinos exuberantes — turbantes com frutas tropicais e plataformas altíssimas — tornou-se ícone nacional. Em 1939, convidada para a Broadway, estreou no musical The Streets of Paris e, pouco depois, conquistou Hollywood. Nos EUA, atuou em 14 filmes, incluindo Copacabana, de 1946, ao lado de Groucho Marx, e se apresentou em palcos do mundo todo. Na década de 1940, chegou a ser a mulher mais bem paga de Hollywood.
Entre seus sucessos estão “O Que É Que a Baiana Tem?” (Dorival Caymmi), “Mamãe, Eu Quero” (Vicente Paiva e Jararaca), “Tico-Tico no Fubá” (Zequinha de Abreu) e “Disseram que Voltei Americanizada” (Vicente Paiva e Luiz Peixoto). Gravou 313 músicas entre Brasil e Estados Unidos, influenciando moda, comportamento e a imagem do Brasil no exterior.
Com uma agenda intensa, Carmen recorreu a estimulantes e sedativos, comprometendo a saúde. Em 1955, após apresentações em Las Vegas e Atlantic City, participou do The Jimmy Durante Show, onde passou mal durante a gravação. Horas depois, sofreu um infarto fulminante em casa, em Beverly Hills, aos 46 anos. Seu corpo chegou ao Rio de Janeiro em 12 de agosto. O cortejo fúnebre parou a cidade: cerca de meio milhão de pessoas acompanharam o enterro até o Cemitério São João Batista.
Para o jornalista Tito Couto, autor de Carmen Miranda – Eu Fiz Tudo Pra Você Gostar de Mim, ela foi tão ousada quanto artistas como Madonna e Lady Gaga. Já o escritor Ruy Castro destaca que, apesar de críticas e preconceito por ter nascido em Portugal, sua brasilidade era incontestável.
A sobrinha Maria Paula Richaid de Oliveira lamenta que Carmen não tenha o reconhecimento merecido e sonha com uma superprodução sobre sua vida, sugerindo Pedro Almodóvar como diretor. “Ela projetou a música popular brasileira internacionalmente. Merece todas as homenagens”, afirma.
Setenta anos depois, Carmen Miranda permanece viva na memória cultural como a artista brasileira que conquistou o mundo com talento, irreverência e alegria.