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Cássia promove 1º encontro de povos de terreiros afro-brasileiro

24 de janeiro de 2024

Lucas de O’xossi é sacerdote do terreiro pai Benedito do Congo e caboclo Giramundo, com raízes na umbanda e no candomblé./ Foto: Divulgação.

Carlos Renato

CÁSSIA – A Secretaria de Cultura e Patrimônio Histórico de Cássia realiza neste sábado, 27, o 1º “Encontro de Povos de Terreiros de Matriz Africana e Afro-brasileira”. O evento acontece no período da manhã na quadra ABM, com o objetivo de compartilhar conhecimentos, tradições e o entendimento entre diferentes grupos religiosos e culturais.

De acordo com o secretário de Cultura, Danillo Rodrigues, a reunião deve fortalecer a comunidade, preservar e disseminar a cultura afro-brasileira, combater a discriminação e o preconceito religioso, além de promover a inclusão, a diversidade e o fomento à cultura.

“Aqui em Cássia são realizados encontros de católicos, encontro de evangélicos, encontro das testemunhas de Jeová, porque não ter um encontro também para os povos de terreiros? Daí convidei alguns membros dessas religiões aqui da cidade e eles abraçaram a causa. Chame pai de santo Sr. Onofre e o filho de Santo Juninho, do templo de umbanda Pai João da Angola e o Lucas D’Oxossi, do terreiro do pai Benedito do Congo e cabloco Giramundo”, disse o secretário, afirmando que espera receber no município pais de santos da região e de outros estados, além de adeptos e simpatizantes de terreiros.

Segundo ele, a administração pretende realizar outros encontros religiosos e planeja inclui-lo no calendário anual do município. “Esse encontro pode contribuir para a validação e reconhecimento das religiões afro-brasileiras. Ao promover a visibilidade e o entendimento dessas práticas religiosas e ajudar no combater aos estigmas e preconceitos, promovendo assim, uma maior aceitação e respeito dessas tradições”, disse Danillo.

PROGRAMAÇÃO

8h – Acolhimento e Organização

8h30 – Abertura do Evento

9h – Preservação e Valorização das Tradições: Discutir maneiras de preservar e valorizar as tradições ancestrais dos diversos povos de terreiros, abordando questões como a transmissão oral, práticas rituais e a importância de manter viva a memória coletiva.

9h20 – Diálogo Inter-religioso e Intercultural: Explorar as semelhanças e diferenças entre as várias tradições religiosas presentes nos terreiros, bem como promover o respeito mútuo e a compreensão entre os praticantes de diferentes crenças.

9h40 – Cultura e Arte: Celebrar a riqueza cultural dos povos de terreiros por meio de apresentações de música, dança, culinária e outras formas de expressão artística que reflitam as tradições de cada grupo.

10h – Direitos Humanos e Diversidade: Abordar os desafios enfrentados pelas comunidades de terreiros, como a intolerância religiosa, discriminação e violações de direitos, buscando maneiras de promover a igualdade e a justiça.

10h20 – Participação da Juventude: Discutir formas de envolver e educar os jovens sobre as tradições dos terreiros, incentivando-os a se tornarem guardiões e defensores dessas heranças culturais.

10h40 – Colaboração Comunitária: Explorar maneiras de unir os povos de terreiros em projetos colaborativos que beneficiem suas comunidades e a sociedade em geral, como ações de solidariedade, educação e projetos sociais.

11h – Dinâmica em grupo

12h – Encerramento

Pai de santo acredita que evento deve desmistificar a religião afro

CÁSSIA – Segundo o pai de santo, Lucas D’Oxossi, do terreiro de umbanda pai Benedito do Congo e caboclo Giramundo, o evento será de extrema importância, tendo em vista que o município de Cássia tem a fama de ser a terra dos terreiros, com grande presença de benzedores, pais e mães de santo e curandeiros. “Cássia é considerada escola para esse ramo da espiritualidade e o evento reafirma essa patente no município e também na região, para que as religiões de matrizes africanas não fiquem escondidas na sociedade. Devemos dar autenticidade e voz às pessoas dessas religiões”, disse.

Para ele, o encontro deve ainda desmistificar e levar mais informações relevantes sobre o assunto. “O preconceito as religiões afro vem do antepassado, desde a época que o negro entrou no Brasil já escravizado e desumanizado. Tudo que vem do negro foi considerado como maligno, inferior, negativo e pejorativo, então o evento também tem o objetivo de combater a intolerância religiosa que sofremos, vem para esclarecer o que foi mal resolvido ou mal compreendido”, disse o pai de santo, reafirmando que o candomblé, quimbanda e umbanda também praticam o bem como as outras religiões, sendo que, o mal está no caráter e na índole do indivíduo e não na religião em si.

“O encontro dará voz aos adeptos dessas religiões muitas vezes julgadas pela sociedade. Vai levar dialogo e questionamentos, mostrando que o preconceito é desnecessário. As pessoas precisam adquirir conhecimento e não reproduzir algo que a sociedade pensa. Isso é ser fantoche do outro e não ter uma opinião própria. Precisamos combater essa manipulação em massa e desconstruir esse preconceito”, disse.

De acordo com Lucas D’Oxossi, o evento deve movimentar a cidade, principalmente com ajuda do poder público e da mídia, através dos jornais, redes sociais e internet. “Eu pretendo no encontro falar o que é a religião e reforçar que os terreiros têm um papel fundamental na vida das pessoas em situação de vulnerabilidade social e pobres”.

Terreiro

Segundo o sacerdote, o terreiro pai Benedito do Congo e caboclo Giramundo em Cássia é considerado misto, com raízes na umbanda e no candomblé. “O termo ‘pai Benedito do Congo’ tem origem refere-se ao ancestral negro africano, sendo um guia de luz ou entidade da umbanda e pertencente a linha dos pretos velhos, sendo importante nas mesas e altares dos terreiros e traz ensinamentos de resiliência, da cura, para oferecer conselhos e consultas àqueles adeptos à religião. Já o caboclo Giramundo é uma entidade tipicamente brasileira, com origem nos povos originários, sendo ser que viveu no antepassado do país. O Giramundo é o ‘caboclo da lei’ que trabalha a sabedoria e a luz e também orienta as pessoas que buscam evolução e progresso espiritual”, explicou o pai de santo.

Segundo ele, além dos cassienses, pessoas do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Bahia e outros lugares do Brasil, já frequentaram o espaço, que funciona como ‘giras’, sendo que, em época de festividades, os médiuns e simpatizantes se reúnem para celebrar os orixás e entidades, além de fazer atendimentos individuais.

Ele também utiliza jogo de búzios e jogo de cartas para oferecer orientações e esclarecimentos para as pessoas que procuram o terreiro em busca do melhor caminho.